No ano passado, embarquei em uma viagem de trem através da Ásia Central, cruzando diversos países e desertos até chegar ao Turcomenistão. A entrada no país foi, por si só, um ritual de espera e paciência. Por horas, o trem ficou parado na fronteira; algumas pessoas que trabalhavam no trem não tiveram permissão para entrar e tiveram que nos aguardar no país anterior. Sem nenhuma explicação.

Ao entrar no Turcomenistão, ficamos sem conexão de celular. Dentro do país, viajávamos com um guia local, que parecia ter respostas prontas para todas as perguntas que os viajantes faziam após os passeios.

Visitamos Ashgabat, uma cidade onde todos os prédios são de mármore branco e onde o presidente permite a importação apenas de carros brancos também, vai entender… Caminhar por suas ruas vazias, entre imponentes edifícios e avenidas sem gente, foi como passear por uma cidade fantasma.

Depois de conhecer Ashgabat, seguimos em direção ao deserto de Karakum para visitar a cratera de Darvaza, acesa por acidente na década de 1970 e que queima desde então, criando um espetáculo de fogo no meio do nada. Descendo na estação de trem mais próxima da cratera, pegamos uma minivan antiga, dos tempos soviéticos, que eu duvidava que rodasse mais de um quilômetro sem nos deixar a pé. Ao nos aproximarmos da cratera, senti o cheiro forte de gás carregado pelo vento empoeirado do deserto. Ainda bem que a equipe do trem tinha avisado às mulheres para não lavarem os cabelos antes de visitar a cratera, é de fato o cheiro de gás era muito intenso!

Ao final dessa odisseia no Turcomenistão, senti um certo alívio ao poder falar novamente com meus filhos pelo telefone e me pus a refletir enquanto o trem balançava de volta para um mundo um pouco mais próximo da minha realidade. Viajar não é, afinal, atravessar o desconhecido e aprender com ele? Durante aqueles dias no Turcomenistão, senti o peso da ausência de liberdade — algo que cresci acostumada a ter, mas que ali parecia um bem raro e distante. A experiência me lembrou do valor imenso de poder escolher e de ser.











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